TUTORIAL

quinta-feira, 10 de maio de 2018


Voltei por que a gente tá precisando encrespar um pouco isso aqui.


OUÇA-ME!

Gente, eu queria muito fazer uma postagem bem bonita e motivacional naquela pegada Good vibes que viraliza e para no Huffpost. Mas, cara! Sendo quem sou, vivendo o que vivo não vai tá rolando.
Então, não!
Marketing e estratégia nenhuma paga o prazer de ser eu mesma e bancar minhas ideias e meus ideiais. Sem contar que a gente pode sempre mandar aquele #calaboquinha pra sociedade.

Vocês sabem que eu sou atriz né!? Tô produzindo uns vídeos aí pro YouTube, mas eu sou atriz,é!!! 

E é essa profissão. Sim, é uma profissão! 
Essa minha profissão artista, a que EU vivo não tem nada a ver com a vida das globais que emendam uma novela na outra. Nada tem a ver com a profissão dos famosos que fecham contratos absurdos com grandes marcas, que estampam capas de revistas, que dão close nos eventos tudo e ganham muito bem pra tirar férias em outro país e aparecer na revista Caras. 
Gente, eu não tô conseguindo nem viajar pela América latina quiçá exterior. Eu posso falar do meu interior, que por sinal tá bem abalado. Não, não tem nada a ver com boy. Por que homi não me rege. Nem os astros tão conseguindo me reger, cara!

Essa minha profissão me traz muitas, muitas alegrias e também muitas tristezas. Sim, nem tudo são doces. Afeta a minha saúde mental num nível tão Hard Core Café que eu me sinto em Nova York. SÓ QUE JOGADA NA LAMA! 

BRINCADEIRAAAAAA

Calma, não tá pra tanto assim por que eu até consigo me virar. Mas é sério, eu nem sei como eu ainda continuo aqui me fazendo de forte. Por que a gente tem dessas de ficar se fazendo de forte né!? E quanto mais as pessoas dizem que você é forte, guerreira e te admira, blá, blá, blá, blá...Mais você quer mostrar que é forte...

E por mais que o meu trabalho não seja lá essas coisas e nem sempre tem trabalho, mas que é através dele que eu pago o dicumê, dibebê, dilocomovê e o disobrevivê. Bom, não era bem essa a ideia de vida que eu tinha pra mim.

Oxi! Esse acordo que eu fechei com Deus antes de descer não me favoreceu em nada. 

Vem cá! Eu subo ou o senhor desce? Brincadeira seu moço quero subir nada não! Tô de boa!( Tô de boa naquelas..)

E entre oscilações de otimismos, pessimismos e realidades, no final eu sigo tentando, insistindo, persistindo, lutando e acreditando que uma hora dessas aí vai valer a “pena”. 

E paralelo a toda essa sofrência a lá Marilia Mendonça dessa minha profissão eu inventei de fazer esses vídeos e jogar aqui num canal do Youtube(jogar naquelas também. Pq como boa capricorniana que sou nada do que eu faço meu amô sai jogado. Eu tento sempre fazer com muito capricho. Por que pra mim tempo é também qualidade.) 

Ser Youtuber, digital Influencer, creator seja lá qual for a denominação, não é uma profissão pra mim. Pelo menos não ainda. Quer dizer, vai saber se o mundo dá aquela volta aquele 360, sei lá! No fundo a gente acaba entrando em contradição e trabalhando com psicologia reversa, fingindo que acredita que não vai dar certo, porém desejando que dê certo.

O fato é que eu tô no Youtube a sete anos e até hoje eu não ganhei um puto. Nunca nem vi a cor dos dinheiros desses rolês das internês. BIT COIN? Nunca nem vi nem comi. 
Só chega boleto da internet, boleto do diacho da TIM, boleto do Itaú, boleto do aluguel...Sou atriz formada e na estrada desde março de 2007. Mas até hoje não me chegou um telefonema pra fazer uma protagonista de novela ( protagonista sim, pq se fosse pra fazer a amiga da personagem principal eu não teria estudado três anos de teatro,TRÊS ANOS!) 

Não me chega um convite pra fazer um comercial da Colgate, e a gente ainda sonha com a família Doriana só que preta. Como Digital "Influêncer" cadê o convitinho pra ser o rosto de uma marca de beleza? E todo ano é a mesma pataquada fazem todo aquele auê com o novo time de embaixadoras da diversidade e das carambola toda. E você consegue contar nos dedos da mão do Lula quantas pretas, retintas e carapinhas tem. Isso por que se for falar em diversidade tem as trans, as gordas  e toda a galera da inclusão. Só vejo rostinho padrão bonitinho, aceitável, palatável e por aí vai. Como dizia mainha “retô-se “  e me reto mesmo! 

Saudades mainha, que falta que a senhora faz minha véia, te amo! 

Tem muita gente que tá acostumado a me ver sorrindo, cantando, zoando por aí. E essas mesmas pessoas não fazem ideia, ideia de que quando a minha energia sobe pelas raízes do baobá ancestral que habita em mim. Neste body, neste body, neste body, body, body, body. 
Sai da frente menino, mas sai da frente por que o shade é garantido. Por que aí meu amô já tá pelas tampas. Borbulhando, fervilhando. Que nem panela de pressão, quando você tá com medo dela explodir? Prazer. Eu sou assim. 
Outro dia uma amiga com quem eu fecho nos rolês e a gente tá sempre tentando se apoiar, incentivar uma a outra, fortalecer e escurecer as ideias. Por que não tá sendo fácil. Não tá! Ainda mais que terapia é caríssima. Aí a gente se ajuda como pode. Essa amiga me perguntou o por que deu ter esse canal? 

E eu sabichona disse. 

Oxi! Pra ajudar as mina, mano...Pra ser representante de vendas da beleza, empoderamento e da identidade negra. Pah! E ela disse que achava que não era só por isso. Pah!

Eu disse. 

É sim, amiga! 

E ela disse.

Não amiga! Não pode ser só por isso. Não pode ser só pelos outros. Tem que ser por você também! Pense aí. GLUP! Deixo aqui pra vocês três palminhas por que ela merece 👏🏾👏🏾👏🏾 

É com esse tipo de pessoa que eu me relaciono, tá!
Se sai e me deixa aqui com esse barulho, e eu fico como? Bolada das ideias, né gente! E por mais que eu saiba que ela tá certa, por que a danada tá certa! Eu fiquei pensando na resposta.
No fundo talvez eu esteja buscando um espaço pra mim, já que o Teatro a TV e o Audiovisual ainda são tão hostis a minha participação. 
O YouTube veio como uma forma possível de me expressar. De evidenciar pessoas como eu, de espelhar e espalhar. Mas, eu achei que fosse ser um pouco menos difícil. E é por isso que dentro da minha cabeça eu continuo mantendo a minha resposta. Que o canal existe pela representatividade. Ponto! E pela necessidade de fazer barulho. Ponto! Por que sendo bem sincera e realista dentro da minha lógica, da minha perspectiva no MEU pensamento individualista eu não tenho a mínima esperança de fechar parcerias, contratos com marcas e nem bombar por aqui. Mesmo sendo essa pessoa linda, inteligente, simpática, maravilhosa, obrigada, COF! COF! Porém, preta e carapinha. E foi-se o tempo em que eu sonhava em fazer esse puta sucesso como atriz. Eu sonhava com o Oscar gente, com o Oscar! E o sonho era tão bonitinho, mai tão bonitinho. Não tinha como não acreditar. Um sonho recorrente desses, bicho! 

Veja minha situação, tem gente que acha que esses closes que eu dou nesses eventos é pq eu tô bombando. Amados eu tô bombando, eu tô explodindo o meu intelecto com tantas informações, pra tentar entender o que tá errado nesse rolê. Eu tô bombeando o ar que eu respiro todos os dias quando eu acordo pra sorrir. E aí jogam na minha cara essa novela, esse segundo sol, essa luz que brilha pra poucos e apaga a maioria. EU? Eu sou o próprio big-bang quando aqueles que escrevem as nossas histórias, escrevem achando que tão fazendo um grande favor pra gente em nos estereotipar, segregar e nos condicionar as mesmas historinhas maniqueístas que vendem como inclusivas. E ainda dizem que “A comunidade afro precisa superar algumas coisas. Não existem atores negros, e quando aparecem precisamos aproveitar” .

Sério mesmo Oh! Poderosa Isis?! Logo tu grande mãe?! Chatiada viu! 

Será que somos nós que precisamos de fato superar algo? Fale-me mais sobre esse “algo”. E quanto ao aparecimento repentino dos atores negros quando FINALMENTE são CONSULTADOS e tem ALGO para eles, esse aparecimento como num passe de mágica é fácil de explicar. É que a gente é assim né?! INVISÍVEL! PUF! Todos os 54% da população entre pretos e “pardos”, invisíveis. E ainda colocam em check o nosso talento. A única coisa que nos separa de comprovarmos o nosso talento é a oportunidade e o medo que vocês tem. 
Eu conheço tantos atores negros talentosos, quanto conheço atores brancos ruins escalados pra fazer whitewashing. Me fale se isso é inclusão, se isso é diversidade, se isso é debate, se isso é representatividade. 

E quanto a nossa participação? Vai ficar só na conta dos dedos? Quantos anos mais de forçação de barra pra que vocês entendam que não viemos pelas migalhas, mas sim pelo banquete. E só nos levantaremos da mesa quando estivemos bem servidos. Entenda-se que estamos famintos. Pois fazemos parte de uma lacuna que a sociedade nunca preencheu e entregou.

Mas até lá aproveitem, afinal é o que a sociedade e o sistema mais fazem com a gente... Se aproveitam! 
E pra que fique bem escurecido eu faço florescer onde o solo é seco. Por isso eu vou continuar lutando por dignidade e respeito, para que um dia possamos ter tudo o que é nosso por direito. 
ÉRICA Cuncê

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